quinta-feira, maio 04, 2006

A Quinta da Igreja

Nascido, criado e residente em Mangualde há várias décadas, conheci desde criança esta antiquíssima quinta, ( com origem na época românica) pertença do senhor João Cabral.
Era uma bela quinta sempre bem cuidada e cultivada pela mão dos seus caseiros, com vinha, terrenos de cultivo e uma frondosa mata. Na parte central da quinta havia uma belíssima fonte, ( a única coisa que resta)um lago de pedra , dois enormes tanques também de pedra para onde jorrava água de nascente e um aprazível jardim.
Dela faziam ainda parte duas casas rurais , uma delas em frente da igreja matriz demolida aquando do alargamento da estrada da Roda há já vários anos, um enorme celeiro de pedra,com um lagar, uma palheira também de pedra e uma enorme laje onde se secava o milho.
Na parte nascente, em frente da calçada para o cemitério, dois emormes e centenários cedros( também já abatidos) ladeavam majestosamente uma das porteiras de ferro que davam acesso à quinta.
Segundo se constou há vários anos, a Câmara Municipal de Mangualde teve oportunidade de a adquirir, quando os herdeiros da mesma a quiseram vender, mas não o fez. Poderia ter-lhe dado outra utilidade e ao mesmo tempo preservar a sua beleza, como se faz felizmente ainda em alguns concelhos deste país.
A quinta foi esventrada, os edifícios e o jardim destruídos, as nascentes de água desaproveitadas e a mata cortada, tudo isto para dar lugar a mais um loteamento, onde campeia o lucro fácil e a estética e o respeito pela natureza são completamente postos de parte.
Será que não há maneira de harmonizar e integrar o passado, no presente?
É evidente que sim, só assim se preserva a memória de um povo e se prepara o futuro.
Compete às autarquias o direito e o dever de o fazer.
Só assim é que Mangualde poderá ser realmente uma cidade verdadeiramente viva, voltada para o futuro, mas sem esquecer e destruir o passado.

2 Comments:

Blogger Neoarqueo said...

Vejo nas suas palavras uma réstia de esperança? Também eu espero que sim...

4:03 da tarde

 
Blogger JL said...

António,
Obrigado pela visita e participação feita lá no "Observatório". Volte sempre e opine.

Em miúdo passava todos os dias em frente à Quinta. Um belo dia de primavera, no regresso a casa, vinha jogando à bola com um grupo de colegas. Inadvertidamente atirei a bola para dentro da quinta num chuto mal calculado. Fui lá buscá-la e deixei no silvado um pedaço do casaco que a minha mãe me havia feito.

1:51 da tarde

 

Enviar um comentário

<< Home